Era uma vez, lá na Judeia, um rei,
feio bicho, de resto.
Uma cara de burro sem cabresto
e duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
que naquela figura não havia
que naquela figura não havia
olhos de quem gosta de crianças.
E na verdade, assim acontecia.
Porque um dia, o malvado,
só por ter o poder de quem é rei,
por não ter coração,
sem mais nem menos,
mandou matar quantos eram pequenos
nas cidades e aldeias da Nação.
Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
que, num burrinho pela areia fora,
fugiu daquelas mãos de sangue um pequenito
que o vivo sol da vida acarinhou.
E bastou esse palmo de sonho
para encher este mundo de alegria,
para encher este mundo de alegria,
para crescer, ser Deus,
e meter no inferno o tal das tranças,
só porque ele não gostava de crianças.
(Miguel Torga)
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Recebi este poema da Isabel Martins
1 comentário:
Tenho este poema num livro que me ofereceram no Natal de 1974, da editora Ulisseia, que é uma antologia de Alice Gomes. Sempre gostei deste poema que nunca mais esqueci e o qual ensino ás minhas crianças quando falamos do Natal.
Este livro acompanha-me há 35 dos meus 42 anos.
Tem poemas lindos de Engénio de Castro, Almeida Garrett, Fernando Pessoa e tantos outros.
Foi bom encontrá-lo aqui.
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